segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Torcidas Organizadas ou Torcidas Profissionalizadas?

Qual a diferença entre assistir a uma partida de futebol na Tv em casa, no bar, sozinho, com amigos, ou estar no estádio?
Qual a diferença, em emoção, de assistir pela Tv um jogo do campeonato brasileiro, alemão, inglês, americano ou chinês?
Sem festa, sem torcida, não há diferença. Ou melhor, há diferença sim. Começa a ser melhor assistir em casa, pois não preciso me deslocar, tem tudo na geladeira, o conforto do meu sofá....

Ir ao estádio assistir a uma partida de futebol precisa continuar sendo uma experiência única. 

O clima da partida está no ar ainda fora do estádio. A energia flui. Os gritos. As músicas. A festa. O momento onde o nome de cada jogador é citado pelo locutor do estádio e repetido pela torcida. A entrada em campo. O foguetório. Os rolos de papel higiênico sendo atirados. As bexigas coloridas. As bandeiras tremulando. A batucada ditando o ritmo. O hino sendo entoado. As palmas ritmadas. Os braços erguidos. A comemoração do gol. A festa da vitória. 

Visualizou?

Então, agora, retire tudo isso. 

O estádio se transforma num teatro. A emoção existe, mas não é extravasada. Fica contida. Acontece somente no momento do gol, com palmas.

Proibindo as Torcidas de entrar no estádio, com todo ou parte do seu material, a Policia Militar, o Ministério Público e o STJD – Superior Tribunal de Justiça Desportiva - estão prestando um desserviço ao futebol brasileiro. Até porque esse tipo de generalização enfraquece as Torcidas do bem.
Uma solução para quando algum ato de violência acontecer no estádio, e seu executor for identificado, é o que fez recentemente a Comissão Antiviolência na Espanha quando multou em R$10 mil e proibiu de acessar o estádio por seis meses um torcedor de 17 anos que arremessou uma garrafa no Neymar durante uma partida, solução que pode ter a pena agravada de acordo com a gravidade do ato ilícito.
Aqui, o estado é incompetente, não consegue punir o verdadeiro culpado, não consegue fazer com que cumpra a pena de não acessar estádios, e o que faz? Penaliza toda a Torcida pelo comportamento de uma pessoa ou de um grupo. É como um morador assaltar um apartamento no prédio onde mora e a justiça condenar os moradores a não usarem o elevador e a garagem por alguns meses.

A Torcida é um BEM necessário. Eles se reúnem muito antes de cada partida para organizar a festa que vamos desfrutar no estádio, separar os instrumentos, costurar, pintar ou recuperar as bandeiras que vão bailar no ar durante a partida, preparar as faixas, mosaico, comprar rolos, encher as bexigas.
Essas pessoas, dedicadas, apaixonadas pelos seus clubes, são essenciais para a festa.

O que precisa ficar claro é que, se buscamos a profissionalização dos clubes, dos juízes, da administração dos estádios, devemos também buscar a profissionalização das Torcidas como entidades sem fins lucrativos e com sua prestação de contas aberta.

A saída ideal seriam os clubes trabalharem com elas, em conjunto, de uma maneira profissional, não as financiando com dinheiro do clube ou de patrocinadores, mas ajudando-as a obter todo o material necessário para a festa, a entender que a festa que fazem tem um valor e é preciso capitalizar esse valor. São bandeirões, camisões, mosaicos, faixas, bexigas, que podem vir com a marca de um apoiador ou um patrocinador que faria a compra dos materiais e aluguel do transporte para viagens pagando direto ao fornecedor, ou seja, patrocinariam determinadas Torcidas comprometidas, antes de tudo, com a paz nos estádios.

O clube poderia ajudar nessa profissionalização com o know how em negociações com patrocinadores, na estruturação e transparência de contas e até desenvolver um plano de Sócio Torcedor específico para Torcidas.

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Obs: Na verdade, no Flamengo, tivemos um diálogo aberto e contínuo com as principais torcidas, conseguindo em alguns momentos pontuais apoio de patrocinadores e lançando um plano específico de Sócio Torcedor. Alguns exemplos a seguir:










Fred Mourão - Gerente de Marketing e Relacionamento do Clube de Regatas do Flamengo 2013/14/15. Coordenador e Professor do MBA em Gestão e Marketing Esportivo da Trevisan. Estudou Marketing na Universidade da Califórnia, tem MBA em Gestão pelo Ibmec, é graduado em Administração pela UERJ e cursou Gestão em Futebol na CBF



3 comentários:

  1. Olá Fred, interessante tua visão. Como frequentador de estádios, confesso que diante de tanto problema com estas torcidas eu estava realmente a favor da extinção delas. Que nós, torcedores comuns, pudéssemos aplaudir e cantar, simplesmente. Mas teu texto me fez refletir. Grande abraço, bom saber desse teu blog!

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  2. Excelente análise. A generalização é o retrato da incompetência das autoridades.

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  3. Olá Fred Mourão, parabéns pelo seu posicionamento. Sempre pensei assim e muitas vezes fui contestado. Em hipótese nenhuma uma insignificante minoria do mal sobrepor a grande maioria do bem.

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