Qual a
diferença entre assistir a uma partida de futebol na Tv em casa, no bar,
sozinho, com amigos, ou estar no estádio?
Qual a
diferença, em emoção, de assistir pela Tv um jogo do campeonato brasileiro,
alemão, inglês, americano ou chinês?
Sem
festa, sem torcida, não há diferença. Ou melhor, há diferença sim. Começa a ser
melhor assistir em casa, pois não preciso me deslocar, tem tudo na geladeira, o
conforto do meu sofá....
Ir ao
estádio assistir a uma partida de futebol precisa continuar sendo uma
experiência única.
O clima da partida está no ar ainda
fora do estádio. A energia flui. Os gritos. As músicas. A festa. O momento onde
o nome de cada jogador é citado pelo locutor do estádio e repetido pela
torcida. A entrada em campo. O foguetório. Os rolos de papel higiênico sendo
atirados. As bexigas coloridas. As bandeiras tremulando. A batucada ditando o
ritmo. O hino sendo entoado. As palmas ritmadas. Os braços erguidos. A
comemoração do gol. A festa da vitória.
Visualizou?
Então, agora, retire tudo isso.
O estádio se transforma num teatro. A
emoção existe, mas não é extravasada. Fica contida. Acontece somente no momento
do gol, com palmas.
Proibindo as Torcidas de entrar
no estádio, com todo ou parte do seu material, a Policia Militar, o Ministério Público
e o STJD – Superior Tribunal de Justiça Desportiva - estão prestando um
desserviço ao futebol brasileiro. Até porque esse tipo de generalização
enfraquece as Torcidas do bem.
Uma solução para quando algum ato
de violência acontecer no estádio, e seu executor for identificado, é o que fez
recentemente a Comissão Antiviolência na Espanha quando multou em R$10 mil
e proibiu de acessar o estádio por seis meses um torcedor
de 17 anos que arremessou uma
garrafa no Neymar durante uma partida, solução que pode ter a pena agravada de
acordo com a gravidade do ato ilícito.
Aqui, o estado é
incompetente, não consegue punir o verdadeiro culpado, não consegue fazer com
que cumpra a pena de não acessar estádios, e o que faz? Penaliza toda a Torcida
pelo comportamento de uma pessoa ou de um grupo. É como um morador
assaltar um apartamento no prédio onde mora e a justiça condenar os moradores a
não usarem o elevador e a garagem por alguns meses.
A Torcida é um BEM necessário. Eles se
reúnem muito antes de cada partida para organizar a festa que vamos desfrutar
no estádio, separar os instrumentos, costurar, pintar ou recuperar as bandeiras
que vão bailar no ar durante a partida, preparar as faixas, mosaico, comprar
rolos, encher as bexigas.
Essas
pessoas, dedicadas, apaixonadas pelos seus clubes, são essenciais para a festa.
O que
precisa ficar claro é que, se buscamos a profissionalização dos clubes, dos
juízes, da administração dos estádios, devemos também buscar a
profissionalização das Torcidas como entidades sem fins lucrativos e com sua
prestação de contas aberta.
A saída
ideal seriam os clubes trabalharem com elas, em conjunto, de uma maneira
profissional, não as financiando com dinheiro do clube ou de patrocinadores,
mas ajudando-as a obter todo o material necessário para a festa, a entender que
a festa que fazem tem um valor e é preciso capitalizar esse valor. São
bandeirões, camisões, mosaicos, faixas, bexigas, que podem vir com a marca de
um apoiador ou um patrocinador que faria a compra dos materiais e aluguel do
transporte para viagens pagando direto ao fornecedor, ou seja, patrocinariam
determinadas Torcidas comprometidas, antes de tudo, com a paz nos estádios.
O clube poderia ajudar nessa profissionalização com o know how em negociações com patrocinadores, na estruturação e transparência de contas e até desenvolver um plano de Sócio Torcedor específico para Torcidas.
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Obs: Na
verdade, no Flamengo, tivemos um diálogo aberto e contínuo com as principais
torcidas, conseguindo em alguns momentos pontuais apoio de patrocinadores e
lançando um plano específico de Sócio Torcedor. Alguns exemplos a seguir:
Fred Mourão - Gerente de Marketing e Relacionamento do Clube de Regatas do Flamengo 2013/14/15. Coordenador e Professor do MBA em Gestão e Marketing Esportivo da Trevisan. Estudou Marketing na Universidade da Califórnia, tem MBA em Gestão pelo Ibmec, é graduado em Administração pela UERJ e cursou Gestão em Futebol na CBF
Olá Fred, interessante tua visão. Como frequentador de estádios, confesso que diante de tanto problema com estas torcidas eu estava realmente a favor da extinção delas. Que nós, torcedores comuns, pudéssemos aplaudir e cantar, simplesmente. Mas teu texto me fez refletir. Grande abraço, bom saber desse teu blog!
ResponderExcluirExcelente análise. A generalização é o retrato da incompetência das autoridades.
ResponderExcluirOlá Fred Mourão, parabéns pelo seu posicionamento. Sempre pensei assim e muitas vezes fui contestado. Em hipótese nenhuma uma insignificante minoria do mal sobrepor a grande maioria do bem.
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