quinta-feira, 30 de março de 2017

Reflexões – É esse modelo de esporte que queremos para nossos filhos?


Confederações e Federações em conluio para se perpetuarem no poder. Árbitros de futebol não profissionais e totalmente despreparados. Tribunais esportivos sem um critério claro e tomando decisões políticas. Dirigentes amadores. Jogadores sem ética alguma.
Todos em todos os níveis e setores do esporte buscando levar algum tipo de vantagem. Tentando se dar bem em cima do adversário ou engabelar o juiz. Malandramente tentando burlar as regras para alcançar seu objetivo.

Temos visto uma busca contínua, não importa como, de alguns grupos nas federações e nas confederações, pela manutenção do poder, onde há presidentes com mais de duas décadas no comando, e a total falta de transparência quanto as receitas e despesas e nas decisões que são tomadas. Vão desde interpretações do estatuto para substituir um vice-presidente opositor por um do mesmo grupo até alterações no texto, votado em sigilo para manter as mesmas pessoas no comando.

Os árbitros continuam não tendo a preparação devida, pois como não são profissionalizados precisam de outras fontes de renda e não lhes sobra tempo para aprimoramento e, também não há interesse por parte dos dirigentes afinal, mantidos sem organização e sem o devido preparo fica muito mais fácil fazer pressão, manipulá-los e influenciar resultados.

Nos tribunais vemos juízes que são torcedores apaixonados de seus clubes, aliados de dirigentes e que, ao invés de buscarem a neutralidade no julgamento, a lisura das decisões, estão mais interessados em facilitar o caminho para seus amigos e dificultar o de quem não esteja do seu lado. Como também não são profissionais remunerados por esse trabalho, dão expediente apenas alguns dias por semana, atrasando julgamentos, retardando decisões e por conta dessas, y outras cositas más, influenciando os resultados das partidas e campeonatos.

Quanto aos dirigentes que lideram a maioria dos clubes no país, apesar de muitos serem abnegados, pecam pelo pouco conhecimento na área da qual cuidam em tempos onde o profissionalismo é o diferencial, e também não dispõe de tempo integral para dedicar a entidade, pois como seu cargo no clube não pode ser remunerado, esse dirigente precisa cuidar de sua fonte de renda principal, dispendendo apenas algumas horas ao dia no expediente do clube, e ainda fazem constantes alianças políticas, negociando cargos entre amigos e aliados, para manter seu grupo no poder, já que a cada 2, 3 ou 4 anos há novas eleições.

Já os jogadores que vem sendo formados num meio onde a ética foi substituída pela vitória a qualquer preço, passam os 90 minutos em campo mentindo: jogam-se ao chão numa simples disputa de bola, como crianças mimadas, para reclamar uma falta não existente; encenam serem vítimas de uma tentativa de homicídio, quando sofreram apenas um esbarrão no ombro; reclamam ao juiz de um toque de mão de um adversário, quando a bola nitidamente, a sua frente, tocou apenas na coxa; peitam violentamente o árbitro por conta de um pênalti marcado, mesmo sabendo que houve infração grave; empurram a bola para o gol com a mão e ainda vem com a desculpa de que foi a mão de Deus, ou que esbarrou mas nem sentiu.

É nesse modelo, sem ética, sem transparência, pernicioso, desonesto, manipulado, encenado, sem profissionalismo, em busca de uma vitória a qualquer preço, que queremos que nossos filhos se espelhem? Que eles tenham como referência?

Creio que já chegou a hora de colocarmos nossas diferenças de lado e cuidarmos do mal maior. A falta de ética e de transparência.

Siga-me no Twitter @FredMourao



Fred Mourão - Gerente de Marketing e Relacionamento do Clube de Regatas do Flamengo 2013/14/15. Coordenador e Professor do MBA em Gestão e Marketing Esportivo da Trevisan. Estudou Marketing na Universidade da Califórnia, tem MBA em Gestão pelo Ibmec, é graduado em Administração pela UERJ e cursou Gestão em Futebol na CBF


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