Será que os clubes sabem?
Cada clube, mesmo sem querer, construiu
uma identidade de marca que veio se consolidando com o tempo. Não houve um
trabalho com essa intenção. Nunca se pensou nisso. Sempre foi como o grande
filósofo do samba carioca, Zeca Pagodinho, citava em uma de suas músicas, meio
que deixa a vida me levar.
Dessa forma o torcedor ia se
identificando com algum clube em particular.
A situação sócio, político, econômica e
cultural influenciava na expansão dos mercados, às vezes com a ajuda direta ou
indireta de governos ou mesmo com o surgimento por “geração espontânea” de
grandes craques ou até pela sorte de ter um determinado dirigente que, mesmo
sendo amador, tinha algum tino para o negócio, ou seja, até bem pouco tempo se
criavam e desenvolviam novos mercados consumidores, quase por acaso, quase sem
querer.
Situações históricas e de guerras de
fronteiras, fizeram com que o povo gaúcho desenvolvesse um perfil muito
particular, assim times como Inter e Grêmio criaram uma polarização local e uma
força no estado praticamente hegemônica e, com a migração da soja para o
centro-oeste e parte da Amazônia, passou a ter torcida nessas regiões.
Falando em migração, temos o
desenvolvimento de mercado dos times de São Paulo pelo Nordeste, pois vários
migrantes após morar e ajudar a desenvolver a cidade voltavam para suas cidades
levando o amor pelos times da cidade.
No caso do Rio, por ser a capital do
país e ter sua cultura e hábitos espalhados pelo Brasil graças a rádio Nacional
influenciou o crescimento de torcidas em todos os estados que não tinham poder
econômico ou político para equilibrar essa disputa.
Esses, entre vários outros fatores,
poderia citar muitos mais, influenciaram no perfil dos torcedores.
Mas a pergunta no momento é: os clubes
sabem quem são seus torcedores, qual o nível de engajamento, quantos são, onde
estão, o que fazem e como são vistos por eles?
Posso dizer com total segurança que não
tem a menor ideia. A grande maioria cita números aleatórios baseados em
achismos e em pesquisas não muito confiáveis.
Claro que ultimamente temos visto
alguns movimentos para identificar esses perfis. Alguns clubes começam a
trabalhar suas bases de cadastro, que ainda são muito incipientes, mas a grande
maioria vê esse tipo de investimento como uma despesa desnecessária.
Faz algum tempo a Ibope Repucom junto
com o jornal Lance fez uma pesquisa, apresentada na figura abaixo, sobre os torcedores dos principais clubes do Brasil.
E, mais recentemente anunciaram que teriam alguns
dados mais sólidos sobre o tamanho desse mercado.
Mas a questão é: algum grande time do
Brasil sabe usar esses dados? Valorizam essas informações? Tomam conhecimento?
Negociam para ter esses números em detalhe? Se interessam em aprofundar a
pesquisa, buscando entender o perfil de consumo de seus torcedores e o real
tamanho da sua base? Consegue dizer onde estão, quantos são, nível de consumo e grau de fidelidade que seus torcedores têm?
Afinal para que gastar dinheiro com
isso se os apaixonados torcedores consomem de qualquer forma e se os
patrocinadores sabem qual o endereço das entidades e fazem fila em suas portas para
deixar os cheques, voltando apenas um ano depois para repetir a “doação”?
Alguns dirigentes citam que tem 5, 10,
20 milhões de torcedores, mas qual o nível de relacionamento, como melhorar o
interesse e proximidade do clube com seus apaixonados fans?
Em síntese, sem esses dados, não há como
conquistar bons patrocinadores que realmente se engajem, patrocinadores que
tenham uma visão profissional e a longo prazo desse relacionamento entre clube, marca
e torcida, que precisa ser construído com dedicação para trazer resultados palpáveis, e não
apenas um investimento pontual, durante um ou dois anos apenas para mostrar sua
logo, usando a camisa como um simples outdoor?
Pois é. Se você não sabe como você é
visto, como o mercado te enxerga, como os consumidores e torcedores se
relacionam com seu clube então, como conquistar patrocinadores e desenvolver o
mercado???
Fred Mourão - Gerente de Marketing e Relacionamento do Clube de Regatas do Flamengo 2013/14/15. Coordenador e Professor do MBA em Gestão e Marketing Esportivo da Trevisan. Estudou Marketing na Universidade da Califórnia, tem MBA em Gestão pelo Ibmec, é graduado em Administração pela UERJ e cursou Gestão em Futebol na CBF
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